As paredes continuam a arder.
A calma inunda a cidade, as ruas atravessadas apenas pela rodagem lânguida de dois ou três corpos.
Abrem-se as janelas, os poros e os pensamentos para deixar entrar correntes de ar inexistente. Perseverantes face ao mercúrio que sobe.
Entramos em modo snooze.
E fugimos, de corpo ou de alma.
Para a frescura e para a catarse do mar.
E da curvatura perfeita do horizonte.


Sempre defendi com unhas e dentes que o hábito não faz o monge. Nem o hábito, nem o fato e a gravata, nem a bata branca.
E este simples pormenor já me trouxe desde acesas discussões em alturas despropositadas, olhares reprovadores, olhares condescendentes e até um ou outro verdadeiro dissabor pela vida fora.
Ainda assim, continuo a achar que o lobo pode vestir a pele do cordeiro.
E que, efectivamente, as pessoas nunca param de nos surpreender.
Pelas melhores e pelas piores razões.

Às vezes, as pessoas ausentam-se.
Para parte incerta. Por tempo indeterminado.
Com ou sem motivos.
Com ou sem explicações.

Como explicar, então, que com algumas pessoas (algumas muito em particular) lhes perdoemos a ausência sem qualquer tipo de tristeza, desilusão ou rancor?
São estranhos os trilhos.
Da palma da mão.
Do coração.
Dos bits, bytes e afins.

Há pessoas que sabemos que estão lá.
Que sabem que estamos aqui.
Suspensos no tempo.
Hopping for the best but expecting the worst.

"There is a crack in everything. That's how the light gets in"


Há nomes grandes. Tão grandes que são maiores que a vida.
Nomes que em si mesmos encerram todo um mundo de emoções, de transbordantes sensações, de palavras ditas, sonhadas, cantadas.
Nomes que são sinónimo de vozes profundas, vividas, conhecedoras de mistérios que nunca vamos sequer conhecer.
E há homens, daqueles com H maiúsculo.
Como este que da longevidade dos anos e de muitas estradas humanas percorridas, se chega humilde à beira de um palco e diz:

It’s wonderful to be gathered here on just the other side of intimacy.(…) We’re honoured to be playing for you tonight.”

Leonard Cohen, you are our man.

(vejam Leonard Cohen Live in London...é de uma emoção arrepiante)

Rain




Malditas convenções sociais e mais as mentalidades formatadas.
Cá por mim podiam ir todas recambiadas para um lugar bem negro nos confins do Universo.
Ninguém iria sentir falta delas e a vida ia ser tão mais simples.
Raista'parta as nuvens, mais a chuva e todas as indecisões do Universo.
E já cá que estamos a falar disso, raista'parta todos aqueles, sem excepção, que mais valia estarem caladinhos do que a contaminarem tudo com a sua negatividade.

Sunshine



Sim o sol brilha, finalmente, altivo e forte.
Mas o mais importante é o sol que trazemos cá dentro.
Sem ele não somos ninguém.