Diz-se que comprou o traje, a estrear, para a festa de luz, de uma qualquer luz que ela espera que venha mas não sabe de onde.
Não sabe ainda se o usará, a esse traje.
A usá-lo, seja com orgulho, distinção, sem receios de vincos mais marcados que possam transparecer da alma por entre a renda da blusa.
E que sorria enquanto adormece ligeiramente, enquanto entorpece os sentidos.
Diz-se que tropeça nos gestos porque, por uma vez, não tropeçou nas palavras e decidiu-se, rubor na face, a dar passos rumo a quem queria.
E, prestes a ver-se, uma vez mais, ao espelho, no espelho dos olhos dos incondicionais que lhe pautam a vida, diz-se que tenta sorrir.
E consegue, até.
Diz-se, também, que a tristeza bravia, a que já tentou afastar, arrumar, assustar, expulsar e até, em desespero de causa, adotar, tem raízes mais profundas do que imaginava.
Mas, diz-se, que vai tentar vestir o traje. E o sorriso. E permitir-se sonhar.
Sei-te aqui mesmo ao lado.
E sei-me no meu quase pior.
E quase me esqueço que te quero por isso ser um dado adquirido.
Penso-te.
Quantas vezes te penso?
Pouso a cabeça na mão e penso-te.
Constantemente.
Penduro, na corda, a alma a secar.

Chega de lágrimas.