Diz-se que comprou o traje, a estrear, para a festa de luz, de uma qualquer luz que ela espera que venha mas não sabe de onde.
Não sabe ainda se o usará, a esse traje.
A usá-lo, seja com orgulho, distinção, sem receios de vincos mais marcados que possam transparecer da alma por entre a renda da blusa.
E que sorria enquanto adormece ligeiramente, enquanto entorpece os sentidos.
Diz-se que tropeça nos gestos porque, por uma vez, não tropeçou nas palavras e decidiu-se, rubor na face, a dar passos rumo a quem queria.
E, prestes a ver-se, uma vez mais, ao espelho, no espelho dos olhos dos incondicionais que lhe pautam a vida, diz-se que tenta sorrir.
E consegue, até.
Diz-se, também, que a tristeza bravia, a que já tentou afastar, arrumar, assustar, expulsar e até, em desespero de causa, adotar, tem raízes mais profundas do que imaginava.
Mas, diz-se, que vai tentar vestir o traje. E o sorriso. E permitir-se sonhar.
Sei-te aqui mesmo ao lado.
E sei-me no meu quase pior.
E quase me esqueço que te quero por isso ser um dado adquirido.
Penso-te.
Quantas vezes te penso?
Pouso a cabeça na mão e penso-te.
Constantemente.
Penduro, na corda, a alma a secar.

Chega de lágrimas.
Escrevo-te cartas que rasgo.
Cartas que não lês.
Queimo-as, às vezes.
Com as minhas próprias mãos,
Com o fogo que me consome
pelas cartas que te escrevo.

Todo o tempo do mundo

Sinto que tenho todo o tempo do mundo, hoje.

Tempo para escrever em ti e por ti as palavras que me rasgam a pele, roçando a verdade, ao saírem por cada poro, por cada olhar. Espraiam raios de luz que incandeiam os olhares bravios que se aventuram a deixar apenas de olhar para baixo, deixar apenas de olhar em frente.

Por isso, tenho todo o tempo do mundo para ti, hoje.
Para te mostrar os abismos por onde passaste sem os teres notado, seres marinhos milenares, cegos na profundidade de ti.
Para parar, mesmo quando o semáforo ainda está laranja, para deixar passar os peões, os bispos, os cavalos e as torres. A rainha que os coma a todos. Cheque ao rei.
Para olhar para o relógio que parou há meses e para lhe acertar o passo.

Tenho todo o tempo do mundo para ti, hoje.
Para responder a cada ponto de interrogação, para sonhar contigo a cada ponto de exclamação, para fazer lânguidamente contigo todas as vírgulas, corpos unidos no balanço que a nossa sintaxe já conhece.

Tenho todo o tempo do mundo para lamber as feridas, aparar os golpes.
Todo o tempo para desperdiçar a 6ª, a entrar no sábado pelo domingo adentro.

IF



IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'

If you can talk with crowds and keep your virtue,
' Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

"If", de Rudyard Kipling
'incorporado' por Dennis Hopper
I put on my cloak and embrace myself to face the weather:
they said it was gonna rain.
So here I stand, come what may.
And yet I realize, while thunder bursts and shakes the earth,
I'm only running to stand still.

O Rio

O rio, um espelho.
Mesmo eu, de costas voltadas, consigo vê-lo, senti-lo.
Sabê-lo na sua multiplicidade de prata no rosto de quem passa, nas lágrimas de quem se esconde.

Chora por dentro, este rio. Uma torrente negra-lama, dos sonhos desfeitos e das ruas sem saída.
Leva consigo: os barcos, a ponte, as casas, as almas.

Preparo-me para lhe fazer frente. Para rasgá-lo a meio (corte profundo de veias), galgando-lhe as ondas e os motins despropositados.

Sei-te bravio. Mas sei também essa cara valente que teimas em mostrar.
Conheço-te a moldura, o enquadramento, a esquadria e as marés.

Chora sem quem houvesse amanhã, rebenta de encontro a cais abandonados por cães vadios.
Impede o teu leito de correr na direção certa, no sentido suposto.
Contraria a vontade lancinante e faz da foz o teu renascer.
Envolve-te com o mar, enleia-te com a verdade, deita-te com quem quiseres.
Mesmo que te chamem fácil.

Mas não desistas de mim.
Porque em ti, esse espelho.

Para ti

Se por acaso te lembrares de passar por aqui...

... do que é que estás à espera?
Who will I tell my stories to if you ain't there to listen?
And if I'm 'stuck under september', how will I find my way out?

The nights, the stars, the kisses
Countless under my pillow.

Will you come to me?
Will you stay?

(guess I should write my stories down, just in case)

Da subjetividade do óbvio

Existe A. E existe B. Somados, fazem C.

Para mim é importante perceber como surjiram o A e o B.
Porque é que têm de ser eles a ser somados e porque é que só eles perfazem C.
É importante perceber como chegámos ao A e porquê.
Porque é que o B está naquele sítio específico onde temos que o ir buscar.

Só assim, além de saber somar A com B saberei como e porquê cheguei ao C.
A isso, a esse óbvio que passa ao lado de demasiada gente, chama-se aprender.
Verdadeiramente.

Para além disto só tenho a acrescentar o óbvio: "Senhor, dai-me sabedoria para suportar algumas pessoas, porque se me dais força, parto-lhes o focinho".

"Everything is..."

Longing to breathe. Waiting for the moment when I (almost) run down the street, music in my head, heart up my sleeve. Leaving all troubles behind, in a drawer, while tourists take their perfect pictures, while tram cars go by, while the bridge frames what still remains of the sun.

Shut down. Reboot. Restart.

Steps become the inner rhythm of my blood stream, making sure my heart still beats.
The head is in its right place. The heart is a mess all over.

Queimado. Renovado. Consumido.
A regenerar-se a cada esquina.
Perdido. Demorado. Quase a chegar.
Não te saberia de outra maneira.
Mas enquanto vens ou não vens
Saboreio-te a promessa vã.
De sangue na guelra.
Mergulhos perfeitos.
Na ponta da língua.
A pergunta.
E a resposta.

Nunca.
Nem eu te saberia de outra maneira.

O paraíso, somos nós que o criamos.


Tudo num só dia

Acordar cedo.
Mergulhar no mar antes das 9h.
Ficar ao sol num recanto paradisíaco.
Brincar na água. E na areia.
Quase adormecer.
Almoço de Verão. Inesperado.
Salada de pimentos.
Um furo novo só porque sim.
Calor sufocante, Marginal de janela aberta.
Conversas a rir antes de chegar ao destino.
Um Varadero.
Noite. Calor. Sushi.
James. Na praia.
A música, a catarse.
Molhar os pés na água e ter inveja de quem se atreveu a mergulhar.
Algumas gotas de chuva a cair no copo de cerveja.
Regresso pela Marginal, ainda o calor.
Perdida em pensamentos. Com um sorriso.
Amigos. Amigos. Amigos.
Tudo num dia só.

MOVE




(perfeito, isto, não é?)

Monday came like an underwater strike
Smooth and steady,
its harpoon,
Took me up for a ride

On Tuesday I saw the light of the sun
Surfacing the sea
But I kept doubting its reflection
It seemed dubious to me

Wednesday I finally gathered the courage
To take a deep breath
Closed my eyes and prayed
"Is this all over yet?"

Thursday I just couldn't believe it
I was floating, well alive
I could already see the shore
Blissfully waiting for me to arrive

On Friday I finally reached the sand
No castaways to be seen
They were already up on the hill
For their souls to be swept clean

Saturday breezed and Sunday came
I closed my eyes
wishing it wasn't so
But Monday came, yet again,
And on the ocean I stand alone

(so...here we go again)

Fora de brincadeiras...amar Lisboa :)

Lisbon as a Toy | Lisboa a Brincar

Da beleza dolorosa dos finais

"I wake to a dark hour out of time, go to the window.
No stars in this black sky, no moon to speak of, no name
or number to the hour, no skelf of light. I let in air.
The garden's sudden scent's an open grave.
What do I have

to help me, without spell or prayer,
endure this hour, endless, heartless, anonymous,
the death of love? Only the other hours -
the air made famous where you stood,
the grand hotel, flushing with light, which blazed us on the night..."

in Over, Carol Ann Duffy



Pudesses ver os meus olhos de serras que em desalinho a estrada conduz,
vasilhas de barro na anca, curva anciã da distante ousadia.
Tem tento na língua que embala e seduz,
luzernas ao longe no eco das fontes e a sombra vadia.

Vejo o sol que se põe nas entranhas da terra,
sigo-lhe a luz cega, despojos vivos da guerra.
Até ao extremo oposto da suposta simetria,
quebro-lhe os medos no cantar da cotovia.

Encosto a porta que dá para a rua de ervas e palhas, infinitos e vinhas.
Este noite durmo sobre as telhas, coberta na noite, sem olhares das vizinhas.

"What can stars do? Nothing...but sit on their axis!"
Charles Chaplin


He asks: "Was I in your dreams?"
I answer: "No, I dream you not."

I silence these words: I dream you not. Because of you I didn't get a minute's sleep.

Chamar as coisas pelos nomes

Não gosto das promessas vãs. Dos sim só porque sim. Dos irei, estarei, farei, dos tudo isso e muito mais, nem tu imaginas quanto, tanto. Portanto: se é o não à partida, se é o não em mente, porquê cruzar linhas, dar pontos, nós, bordar caminhos nos SMS ou no Google Maps?

Para quê desarrumar a casa e agitar as águas, sacar do tempo que não se tem ou que é precioso para dispensar?

Eu preferia continuar a guardá-lo, longe das promessas vãs e perto dos divãs reais com os quais posso realmente contar: o conforto e a proximidade de quem me quer bem.

Portanto, menos postas de pescada, menos ideias peregrinas. É o que se pede de quem abre a boca, os braços e a mente para o que, na verdade, não sente.
A gerência agradece.

Plans for today:


The grass is always greener on the other side...but you'd still have to mown it.
Might as well kick off your shoes and enjoy the ground beneath your feet.

Which way to go?

The King

Make way, make way
For the king

He carries no crown but shows his wounds like trophies
From an ancient battle no one asked him to fight

He wears his heart up his sleeve
(such a beautiful euphemism…he just can’t keep from us all that he feels inside)
And his cloak down to the ground

"Shoot him now, shoot him down”
His honesty hurts our eyes
His perseverance appalls us

Make way, make way
For the king

Cut down his dreams, bring down his house
“How dare he lead us into freedom?”

A Long Time Ago

A long time ago...I was in love

With the sun.
With the way it kissed my skin, how it lit up my smile.
The way it cast my shadow, stretched out beyond my reach.
With the different shades it wore throughout the day,
from a bright blinding white to a torrid dying red.

A long time ago... I was in love with the sun.
But then I moved to a place made of clouds.

A long time ago...I was in love

With the flowers.
With the way they bloomed where they weren't supposed to.
With the way they needed my care and my voice, once in a while.
With the wilderness of their shapes, colours, smells.

A long time ago...I was in love with the flowers.
But then I moved to a place made of concrete.

A long time ago...I was in love.

With you.
With the truth in your words and the way you made me sigh.
With your touch in every inch of me.
With the way we heard the same song.

A long time ago...I was in love with you.
But then I moved to a place made of nothing.

But all that was a long time ago.
Now I know that...
...the sun still shines above the clouds (and I only need to fly high to reach it)
...the flowers still bloom (in windowsills and on the cracks on the pavement)
...from nothing came everything (and I ended up smiling more than before).

Tento escrever: ideias precisas, sentimentos profundos, palavras que se confundem, que confundem a leitura na imensidão dos significados. Mas não consigo ir além de duas linhas no documento do Word, duas dúzias de palavras batidas no teclado. Nem tanto.

Procuro inspiração, profusão, mas só me sai isto: canta-me uma canção. Pirosa. Melosa. Um "Lady in Red" ou outra que tal. Mesmo fora do tom. Mesmo desafinado. Melhor assim, verdadeiro, sentido. Com alguma vergonha, mas despido de receios. A saber que te oiço e sorrio. Melodia na voz e nesse sorriso. Que o corpo balança, embalado pelo teu olhar. Sabe-me aqui, de peito aberto enquanto cantas para mim.

Totally addicted to this

Vejo o sol subir e descer o muro à minha frente. No seu percurso diário, apanha o autocarro quase sempre à mesma hora. Uma vez por outra chega atrasado um ou dois minutos, mas não o suficiente para que eu perca o espectáculo.

Tenho lugar cativo.

Assisto ao desfile, ao filme e ao torneio.

Durmo, acordo, sonho acordada.

Vejo-te as mãos, os olhos, a boca.

Anseio o teu toque, o teu olhar, o teu sabor.

Nem sempre ficas ao meu lado, para assistir à vida a passar.

Por vezes, passas dias sem aparecer.

Mas acabas por chegar, mais cedo ou mais tarde.

No entretanto, perco os autocarros que passam porque estou distraída e o sol aborrece-se comigo porque não lhe dou atenção.

O que acabo por nunca lhe admitir é que a tua intermitência começa a fazer concorrência aos próprios raios do sol.

Fui Ver o Mar & Pôr os Sonhos a Arejar


Love letter from the Tooth Brush to the Bicycle Tire


Fala-me das tuas noites, dos teus recantos, da posição perfeita enquanto adormeces, a dois centímetros do abismo do sonho. Conta-me as montanhas percorridas, os medos domados, as batalhas temíveis. Diz-me como sentes os primeiros raios de luz quando despertas, quando abres os olhos e os fechas novamente à procura dos últimos resquícios da noite que se vai a escapar. Mostra-me o desalinho dos lençóis quando te levantas, os passos arrastados em direcção à janela. Pede-me que te estenda a toalha de banho e passa-me a manteiga para a torrada. Acorda o diálogo devagar. E despede-te sob a ombreira do céu carregado de chuva enquanto corremos em direcções opostas para apanhar o autocarro e o metro. Mede o tempo, gere a pressão do trabalho e manda-me uma mensagem inusitada a meio do dia. Como "lembrei-me agora mesmo da curva do teu ombro" ou "está um lindo dia. isso e o teu sorriso". Garante que me rio ao ler as mensagens e que te chamo "parvo" baixinho mas que nada me ilumina mais do que isso. Conta os minutos que faltam e amaldiçoa a lentidão do computador a desligar-se e as filas de gente na estação. Mete a chave na porta, já a deixar o mundo para trás. Conta-me o teu dia porque, em breve, vou pedir-te: fala-me das tuas noites.

E por fim confirmei o que já há algum tempo desconfiava.


(...and I love it back!)

If only...

Saber dizer 'não'.

Nota de Rodapé

"Enquanto o espelho me reflectia os olhos(10), ouviam-se ao longe as escalas incertas de um saxofonista da banda, ensaio solitário, buzina dentro do nevoeiro.


(10)
Ao fixar o reflexo dos meus olhos no espelho, já me pareceu muitas vezes que está outra pessoa dentro deles. Observa-me, julga-me, mas não tem voz para se exprimir. Será talvez eu com outra idade, criança ou velho: inocente, magoado por me ver a destruir todos os meus sonhos; ou amargo, a culpar-me pela construção lenta dos seus ressentimentos. Seria melhor se tivesse palavras para dizer-me, mas não. Só aquele olhar lhe pertence. É lá que está prisioneiro."

J. Luís Peixoto, Livro

A porta fechou-se contigo
Levaste na noite o meu chão
E agora neste quarto vazio
Não sei que outras sombras virão
E alguém ao longe me diz

Há um perfume que ficou na escada
E na TV o teu canal está aberto
Desenhos de corpos na cama fechada
São um mapa de um passado deserto
Eu sei que houve um tempo em que tu e eu
Fomos dois pássaros loucos
Voamos pelas ruas que fizemos céu
Somos a pele um do outro

Não desistas de mim
Não te percas agora
Não desistas de mim
A noite ainda demora

Ainda sei de cor o teu ventre
E o vestido rasgado de encanto
A luz da manhã e o teu corpo por dentro
E a pele na pele de quem se quer tanto

(...)

Não desistas de mim
Não te percas agora
Não desistas de mim
A noite ainda demora

Não Desistas de Mim, Pedro Abrunhosa
(Volta e meia escreve destas, que arrancam o coração do peito. Quanto à voz, estamos conversados.
)



A simple poem to say "Screw You"

Your little white lies all day long
Got my head spinning in a never ending song

Despite the wind that churns
Through your stupid a-b-c’s
My mouth kept holding back
All the words that sting like bees

Had I known I’d end up like this
Without a single thought of mine
I’d already gathered the courage to say
‘Stick it where the sun don’t shine’

But your blah blah blah
And the way you always sigh
Keep my feet on the ground
with the confidence that
You are just not worth the try