"I'm Yours"

Por pirosa que a considerem, longe do que habitualmente oiço e seguindo mesmo aquilo que um amigo chama de "a rebanhada", elejo esta como a música oficial de um Verão que se aproxima do fim. Pela leveza, pela doçura e por a cantar a plenos pulmões, de vidros abertos enquanto conduzo para o trabalho.

Gorila

Há uns tempos atrás comprei pastilhas Gorila.Pelo saudosismo, pela nostalgia de mastigar aquelas pedras de mentol ou banana, às vezes perder a cabeça e comer duas de cada vez. Estas vinham num novo formato, com uma embalagem apelativa. Prometiam sabor a canela, sem açúcar, baixo em calorias. E com flúor! De igual às de antigamente, só mesmo o facto de perderem o sabor em menos de quinze segundos.
As Gorila faziam parte dos meus dias. Na altura era normal ir ao café com os pais e pedir uma. Não mais do que isso e nunca, certamente, pacotes de batatas fritas e afins. As Gorila custavam cinco escudos mas a marca que deixaram no imaginário infantil deste país não tem preço. E eram grandes, ridiculamente duras e perdiam o sabor em menos de nada. Mas eram "as" pastilhas. E agora, com um pacote de Gorila de canela, sem açúcar, baixo em calorias (e com flúor!) na mão, limito-me a lamentar que algumas coisas já não sejam como antes.

Ray

Um dos meus mais recentes vícios musicais teima em não abandonar os meus phones. Chama-se Ray LaMontagne e é assombroso. Aqui, deixo-vos uma cover partilhada a meia voz e guitarra com (mais um) dos meus eleitos - Damien Rice.
Sim, são dois freaks. E sim, são geniais.

Story #2

Olho para o teu corpo no chão e sinto liberdade a correr-me pelas veias. Literalmente. A arma que tenho na mão confirma a realidade. Ainda bem. Estava com medo que fosse só um sonho.
Na aparelhagem, os Muse tocam “Feeling Good”. Gostavas tanto de ouvi-los. Ficavas numa espécie de transe e deixavas os acordes fortes correrem por ti como uma corrente eléctrica. Ou talvez fosse só essa brancura de morte a chegar finalmente ao teu coração e ao teu cérebro, a turvar-te o olhar e a distorcer-te o sorriso pelo prazer desse vício. Gostavas de arranjar essas desculpas patéticas para me empurrares de um lado para o outro com as tuas palavras ou com as tuas mãos. Agora já não te podes rir de cada vez que ouvires esta música (porque agora sou eu que sorrio quando a oiço). Nem podes entrar mais em mim.
Não estás morto, mas para mim é como se estivesses porque o meu medo morreu e por isso tu também. E tu sabes disso.
Gostava de saber como é que vais explicar nas urgências que levaste um tiro na perna. E que estavas com muito medo de mim quando isso aconteceu.

"Roll the Dice"



(do grande, genial e louco Charles Bukowki, "Roll the Dice")

Story #1

O relógio na parede tem três mostradores. Um, grande, com os seus dois ponteiros negros a assinalar a dolorosa passagem dos minutos. Os outros dois, mais pequenos, marcam a hora actual em Nova Iorque e Hong Kong. Tudo isto faria sentido se eu estivesse num aeroporto, a caminho de um qualquer destino, longe ou perto, tanto faz, desde que seja diferente desta realidade. Ou se eu estivesse num quarto de hotel e aguardasse o nascer do dia no outro lado do mundo, para poder agarrar no telefone e ligar a alguém só para ouvir a sua voz e perguntar “como está o tempo aí?” e “dormiste bem?”. Aí sim, este relógio faria algum sentido. Não aqui, no meio de um café de cadeiras desconfortáveis, olhares cansados e cigarros apagados nos cinzeiros.
Sentar-me aqui, pedir uma bica e dar de caras com este relógio é perceber que há vida noutros mundos, noutros lados do mundo, onde tudo poderia ser diferente. Melhor ou pior. Tanto faz.
Estaria provavelmente sentada num outro café, em Nova Iorque ou Hong Kong, a pensar que a realidade dói. Onde quer que se esteja. Talvez estivesse apenas mais só, a lutar com os mesmos problemas. Ou talvez não. De qualquer forma, seria melhor. Desde que não fosse aqui, neste café, a olhar para as borras no fundo da chávena e a ver os sonhos morrerem, precisamente quando o relógio marca 14h45. Hora de Nova Iorque.

"Acordares"

Acordar. Sentir o corpo sair do torpor do sono, a mente a despertar e, por fim, os olhos a abrirem para as paredes do quarto. O despertador arrasta-me para mais um dia da minha vida. E se há dias em que custa mais largar de vez o sono e acordar para a realidade, há que arranjar forma de acreditar que vai ser um dia bom. Por isso,
há uns dias atrás mudei o toque do despertador. Agora, em vez do som anónimo e monótono de uma campainha, tenho uma música que me inspira e que me faz acreditar que as coisas vão mesmo correr bem - basta para isso sair da cama. E não é muito melhor acordar assim?



Agora acordo ao som dos brilhantes The Killers e deste "All the Things that I've Done". E a vocês? Que música escolheriam para vos inspirar ao acordar?

O início da viagem

Porque há coisas cá dentro que não me apetece mais calar.
Por causa das histórias, das trivialidades e das ideias que quero e gosto de partilhar.
Por causa das divagações, das emoções, dos dias de sol e das noites de insónia.
Por causa dos sons, das imagens, das letras que me ocupam o espírito.
Porque sim.
Por tudo isto, benvindos.