Story #2

Olho para o teu corpo no chão e sinto liberdade a correr-me pelas veias. Literalmente. A arma que tenho na mão confirma a realidade. Ainda bem. Estava com medo que fosse só um sonho.
Na aparelhagem, os Muse tocam “Feeling Good”. Gostavas tanto de ouvi-los. Ficavas numa espécie de transe e deixavas os acordes fortes correrem por ti como uma corrente eléctrica. Ou talvez fosse só essa brancura de morte a chegar finalmente ao teu coração e ao teu cérebro, a turvar-te o olhar e a distorcer-te o sorriso pelo prazer desse vício. Gostavas de arranjar essas desculpas patéticas para me empurrares de um lado para o outro com as tuas palavras ou com as tuas mãos. Agora já não te podes rir de cada vez que ouvires esta música (porque agora sou eu que sorrio quando a oiço). Nem podes entrar mais em mim.
Não estás morto, mas para mim é como se estivesses porque o meu medo morreu e por isso tu também. E tu sabes disso.
Gostava de saber como é que vais explicar nas urgências que levaste um tiro na perna. E que estavas com muito medo de mim quando isso aconteceu.

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