José

Era um homem alto, recto. Raramente curvado. Caminhava direito, distinto da multidão. Não gostava do seu nome, da simplicidade estreita do seu nome que sentia sufocar tudo o que trazia dentro de si. Não gostava de tudo o que lhe era imposto, o que por vontade alheia era obrigado a aceitar.

A aparência serena, o discurso bem pensado. Tudo no lugar certo, da forma socialmente correcta, dentro das barreiras conformadas do expectável. Quando trocava dois dedos de conversa, era amável, educado, suficientemente preocupado e o necessariamente distante. Nunca trocava, em conversas de circunstância mais do que devia. Poucos lhe conheciam inconfidências.
No trabalho tinha colegas. No prédio de dois andares, o "bom dia" dos vizinhos.

E, ao fim do dia, chegava a casa e despia o fato e gravata. Despia o cinzento. Despia os limites que lhe impunham pela janela abaixo e punha a música tão alto quanto podia.

São assim, os génios...


Jamie Cullum, Coliseu 25 Maio 2010

Last night and on this day

Old familiar faces
A couple new places
And all the hot spaces

And a new day with kid's races
and laughter in heartfelt embraces

...ainda as minhas coisas

Maçãs verdes. Morangos. Cerejas. Fruta de Verão, fruta no Verão.
A familiaridade com que as minhas pernas sobem determinadas escadas.
Um "obrigado" sincero. Um "obrigado" sentido.
Momentos de clareza de espírito.
Molhar as bolachas no leite. E leite gelado.
Agarrar num livro e lê-lo com vontade (e aperceber-me de há quanto tempo não o fazia). Conduzir. Conduzir sem destino. Conduzir ao som da música que me move.
Fazer sacrifícios e saber que valeram a pena. Fazer sacrifícios e saber que não valeram a pena mas que aprendi com isso de igual forma.
Sonhar acordada. Dormir a sesta.
Ter histórias para contar e partilhá-lhas com quem quer ouvir, com quem gosta de ouvir.
E pessoas extraordinárias. Absolutamente extraordinárias.
O que eu dava para me levantar cedo esta manhã, ir à missa,
e voltar da Igreja com a cara que trazia o meu vizinho...
Queria era sentir-me ligado a um destino extrabiológico,
a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração.

Miguel Torga
As fronteiras.
As barreiras.

O limiar da nossa imaginação,
da nossa percepção e da nossa intervenção.
A capacidade de dizer não.
Sem reservas, sem receios, sem rodeios.

Ganhar de volta o ar suficiente.
Para seguir em frente.
De cabeça erguida, correr a corrida.

Ganhar a coragem, fazer a viagem...
...e regressar cansado, torturado...
... mas nunca vencido.

"This is a story of boy meets girl. But you should know up front, this is not a love story."



People don't realize this, but loneliness is underrated.

Há dias em que te bastam uma cerveja
e cinco metros quadrados de sonhos e conforto.
Nos outros, queres o mundo que está lá fora.
Pegas na minha mão e voas como se o futuro fosse agora,
fosse aqui, fosse teu.
E eu sigo-te.
Seguir-te-ia mesmo de olhos fechados.
Seguir-te-ia a rastejar no asfalto,
a trepar muros infinitamente altos.

Mas nunca, nunca, te deixaria sozinho.


Hoje esqueci-me do casaco em casa.
Esqueci-me de trancar a porta.
E esqueci-me de mim também.