José

Era um homem alto, recto. Raramente curvado. Caminhava direito, distinto da multidão. Não gostava do seu nome, da simplicidade estreita do seu nome que sentia sufocar tudo o que trazia dentro de si. Não gostava de tudo o que lhe era imposto, o que por vontade alheia era obrigado a aceitar.

A aparência serena, o discurso bem pensado. Tudo no lugar certo, da forma socialmente correcta, dentro das barreiras conformadas do expectável. Quando trocava dois dedos de conversa, era amável, educado, suficientemente preocupado e o necessariamente distante. Nunca trocava, em conversas de circunstância mais do que devia. Poucos lhe conheciam inconfidências.
No trabalho tinha colegas. No prédio de dois andares, o "bom dia" dos vizinhos.

E, ao fim do dia, chegava a casa e despia o fato e gravata. Despia o cinzento. Despia os limites que lhe impunham pela janela abaixo e punha a música tão alto quanto podia.

6 comments:

I disse...

a vontade de fugir...

Lina disse...

...para não mais voltar.
De soltar de vez as amarras...

Anônimo disse...

Ops que bom...Pelo menos deixavas de ser "má companhia" para algumas pessoas. Será que ainda ninguém mais descobriu o teu lado menos bom!!!!

Lina disse...

Todos temos uma lado menos bom, o nosso lado lunar...mas não quer dizer que se seja necessariamente uma má companhia...não?

Filipe Lascasas disse...

..."da simplicidade estreita do seu nome que sentia sufocar tudo o que trazia dentro de si."

..."suficientemente preocupado e o necessariamente distante."

Brilhante. Obrigado

Lina disse...

Desta que te lê deste lado, o meu humilde obrigado.
:)