No fim de contas, acabamos por encontrá-las onde menos esperávamos...

ALUGA-SE T1 NO VENTRÍCULO ESQUERDO



É em momentos como este, precisamente como este, em que há raios de sol que aquecem e inebriam que percebo a sua importância. Após dias a fio a saltar de nevoeiro para nuvens cinzentas é este o poder do sol: regenera e reconforta (como poucas outras coisas).

Devíamos era trazer todos o sol na algibeira. Era bem mais fácil.
Sol de bolso...a ver se não me esqueço de registar a patente.

Para J., #2

Despe a pele ao fim do dia, quando chega a casa.

Pendura-a a secar de todas as mentiras que diz a si mesmo e do orgulho que engole enquanto caminha no arame.

Acrobata perfeito no limbo.

Perdido de si e achado nas esquinas a caminho de mais uma noite.

Descrente do mundo, descrente de tudo.

Cerra os olhos, cerra os dentes, cerra os punhos.

E aguenta mais uma viagem.

Rói com os dentes as amarras.

Don’t let the bastards grind you down.

Acta

Reunidos ao dia 17 de Janeiro de 2011 em Sala de Reuniões de Condomínio (a.k.a Cabecinha desta que vos escreve), os respectivos condóminos, definiram:

Ponto1.
Dado que o edifício, no geral, encontra-se neste momento mais resistente que antes, apresentando apenas algumas pequenas brechas na armadura - parte natural do decorrer dos anos - decidiram os condóminos não proceder a planos a longo prazo para este ano civil, pelo que não foi adjudicada qualquer intervenção.

Ponto 2.
A reunião durou menos tempo que o previsto dado que os estragos verificados no ano transacto foram rápida e cuidadosamente tratados, implicando, assim, menos custos emocionais que o inicialmente previsto.

Ponto 3.
Caso venha a ocorrer algum tipo de intervenção, ficou decidido por maioria que a mesma seja adjudicada sem necessidade de nova reunião dado que, após breve discussão, foi consensual que há situações que pura e simplesmente não se conseguem prever e que são, por esse mesmo motivo, muito melhores assim (mesmo que isso implique um assalto ao apartamento do inquilino do 2º esquerdo, Mr. Heart himself).

Ponto 4.
Foi ainda acordado manter a estreita relação entre condóminos que se verificou até agora, assente no respeito e compreensão, estendendo uma mão sempre que é preciso, dando um olhinho quando necessário.

Ponto 5.
Dada a forma positiva como decorreu a criação do Arquivo de 2010, ficando todos os assuntos devidamente classificados e arrumados, decidiram os condóminos continuar a proceder de futuro de forma semelhante. Nada melhor que a casa arrumada.

Não havendo mais a acrescentar, fica a Reunião de Condomínio encerrada.

"És boa a matemática?"

Perco-me no meu perfeito raciocínio linguístico, visual e sensorial.

Associo os três e jogo com a sua plasticidade, atribuindo nomes a sensações inomináveis, sabores às palavras que se desdobram na minha boca e que saboreio em segredo, novos padrões e ritmos ao compasso dos sons que me embalam a imaginação.

E deixo-me divagar.

Roubo minutos preciosos ao sono e à concentração e vou pelas ruas, dobrando esquinas onde apenas existiam rectas enfadonhas de tão previsíveis que eram. Os que passam por mim, não os conto. Não lhes atribuo numeração. Antes histórias de passados sórdidos, ou vidas mundanas ou segredos por partilhar. Nas ruas não me perco na esquadria dos prédios, mas antes nas cores da roupa na corda, da promessa que se esconde numa janela semi-aberta ou em palavras marcadas a tinta, ao dispôr da nossa interpretação.

Não penso em sequências numéricas, raízes quadradas e "noves fora". Aborrece-me a certeza das casa decimais, a discriminação das percentagens e a simplicidade de uma regra de três. E não gosto de pensar dentro de quadrados, trapézios e ângulos agudos.

Prefiro infinitamente os adjectivos, os verbos, os complementos directos e indirectos. Prefiro as cores, as imagens, a contraluz.

Porque posso fazer deles o que quiser, sem limites ou barreiras impostas.


Apesar de todos os olhares incrédulos à minha passagem, das vinte vezes em que me perguntam no mesmo dia se não trouxe chapéu (óbvio que não, senão não estaria neste estado...portanto, porquê a pergunta?), de ficar com a roupa colada ao corpo durante metade do dia e do estado lastimável em que por vezes chego aos meus destinos...

...a verdade é que gosto de andar à chuva.

Gosto da sensação de liberdade, das gotas frias no rosto,
de sentir de forma mais nítida e distinta a força do mundo em mim.
Gosto das gotas que escorrem para onde não deviam
e de não me sentir mais uma no rebanho que caminha,
cabisbaixo,
com ar mais soturno e cinzento do que o céu.
E gosto desse céu, a desabar, da promessa de fúria.
E eu, cá em baixo, a senti-lo em cada gota.

While commuting, the laugh of the day:

"I was wondering through a street market and saw someone wearing a T-shirt that said, 'If a man speaks his mind in a forest and no woman hears him, is he still wrong?' Probably."