2010

Princípios. Finais. Sorrisos. Cullum. U2. Fonseca. Alive. PDL. Laços que se estreitam. Sorrisos. Lágrimas. As suficientes. Certezas. Dúvidas. Londres. Edimburgo. Escócia. Amigos. Tantos. Tão bons. Os de sempre. Os novos. Todos. Cá dentro. A família. A perda. A dor. A revolta. E os laços, mais fortes. As Palavras. Ditas. Escritas. Por dizer. Silenciadas. E a música. Sempre, a música. Perder a conta: aos petiscos, aos jantares, aos copos cheios, aos copos vazios. Os planos. Feitos. Por fazer. Rasurados. Crescer. As feridas abertas. As feridas saradas. Saber que mudei, mas que continuo a mesma. Erguer-me, sempre. E, nas últimas horas do ano, o coração. Cheio.
Coloca o olho por detrás da lente, despreocupada de focos, contraluz ou captações perfeitas. A analogia bem segura entre mãos, atrás da qual se esconde espreitando o mundo como pelo buraco da fechadura. Sem saber ao certo as formas e contornos precisos que encontrará do outro lado. Nada é igual ao que vê quando o que vê é através desta lente. Ficará registado no rolo, não saberá quando ou se chegará a ver a luz do dia. Este olhar preciso, enquadrado e único é apenas seu. E sabê-lo, deixa-a confiante no bom que há guardado nas incertezas.

Capta os sorrisos quando ninguém espera (que são, por isso, genuínos). Capta a imperfeição do quotidiano. Capta os ínfimos gestos, inatos, impensados, humanos.

Esconde-se por detrás desta lente, nova, com que olha agora o mundo.
E vê todas as possibilidades à sua frente.
Só terá que captá-las.
E o mundo será, finalmente, seu.


Step #1

O Plano

Tinha o plano bem traçado. Os passos a dar, os objectivos a atingir.
Quem estaria ao seu lado, quem lhe faria companhia na viagem.
E de súbito a escuridão, o resvalar do chão debaixo dos pés.
A visão turva e o não saber mais como respirar.
Perder a razão e ver a torrente de sangue a saltar-lhe do peito.
E a chuva.
E a chuva contida cá dentro.
...

E seguir em frente.
Mais uma ferida aberta.
E um passo em frente.
Um atrás do outro.

Note to self: be brave.





Every night I have the same dream
I'm hatching some plot
Scheming some scheme...

Aceitou o desafio.

Disse que sim com uma facilidade surpreendente, deixando escapar a verdade antes que a razão pudesse apanhá-la a meio do caminho. De qualquer forma, gostava de dizer: “adoro desafios”, estivesse ou não alguém a ouvi-la. Para se convencer a si mesma e para se obrigar a dar passos em frente.

Gostava do traçar dos planos, das tabelas com prazos e limites, da determinação de objectivos. Da racionalização de momentos e minutos, delimitados e previstos, como se fosse tão simples quanto isso.

Deixou escapar a verdade, sorrateira, por entre os lábios.

Brincou com os seus vestígios, saboreou com a língua o seu ténue rasto e mordeu os lábios pelo bem que isto lhe sabia. A verdade estava cá fora, nada a fazer quanto a isso. Agarrou instintivamente na caneta e escreveu no primeiro pedaço de pele que apanhou a jeito (que nem era, sequer, seu).

Deixou que lhe inflamassem o ego, um flirt que lhe sabia bem por sabê-lo raro e por, lá no fundo, não acreditar nele.

Sentada, os ataques vinham de todos os lados:

- das palavras que a confrontavam à sua frente;

- das palavras que, sussurradas ao ouvido, a deixavam com a emoção à beira da pele;

- das palavras que, do fundo da mesa, lhe gritavam e ficavam a pairar, nada subtis, no ar (misturadas com fumo, riso e promessas).

As palavras, sempre as palavras.

E conseguia listá-las assim, entre travessão e ponto e vírgula, com todas as sílabas a que tinham direito. Desafiadas e, simultaneamente, desafiadoras. Brincou uma vez mais com a verdade, nos lábios, saboreada e multiplicada no calor honesto dentro de si. Sabiam-lhe a vinho, a sol e a futuro.

E, por fim, agarrou nas palavras e fez delas o que sempre quis fazer mas nunca tinha conseguido. Perante todos, disse: “é este o plano…”

Why not?

Sobre a mesa, ao jantar, lançou-me esta: "...tu tens é preguiça de escrever. De escrever a sério."

Fiquei a saborear a ideia e ajudei-a a descer com dois goles de tinto.
Pousei o copo na mesa e pensei:

Preguiça, sim.
Preguiça de arrumar as ideias em capítulos ordenados, em folhas paginadas, em discursos coerentes.
E medo, também.
De vir a ter em mãos histórias que rumem a finais que eu queria diferentes.

Mas nem é sequer a primeira vez que tenho esta conversa, que me dizem sem rodeios isto.
O fim do ano está aí à porta e, fazendo contas à vida, tenho mais motivos para sorrir do que o contrário.
Porque não escrevê-los, também?

A Resposta

De todas as vezes que tentei escrever, desisti a meio.

De todas as vezes que tentei escrever-me, escrever-te.

Não sei porque fujo assim que vejo uma porta aberta, porque apago as luzes à passagem, porque não te digo “até logo”. Se calhar até sei, mas recuso-me a admitir o medo, os receios, as inseguranças, porque é muito mais fácil fugir e refugiar-me na sacanice da saída mais próxima, od caminho mais rápido, dos atalhos. Se calhar é porque não gosto de becos sem saída. Ou porque quando me encosto à parede vês a totalidade de quem sou.

Não preciso de carimbos que legitimem isto: sou um fraco. Mas um fraco com fôlego suficiente para correr a distância que for necessária até me encontrar na segurança e na recompensa da altivez, estúpida, de quem se acha dono da verdade. Não são precisas 25 linhas numa folha azul para resumir em apenas uma frase: sou demasiado complicado. Ou simples. Ou frágil, a fingir-me de forte.

Dá-lhe o nome que quiseres, mas não deixes nunca de querer ler-me. De encurralar-me. De prender-me quando vou a fugir. Porque fugir (e não voltar) não é ganhar asas. Ganhar asas é ficar, poder voar (quando quiser) e regressar depois de cada voo. A ti.

Subscrevo-me, de coração aberto,

….

A carta

Preciso que escrevas.

Peço-te que o faças, assim, sem artifícios, sem entrelinhas, sem dificuldade ou orgulho ferido. Disponho-me, vulnerável, com um “por favor”.

Quero ler-te, preciso de ler-te.

Para perceber a tua persistência, a tua ausência e a tua intermitência.

Para perceber porque apagas a luz antes de teres saído da sala, porque desligas o telefone antes de te despedires, porque trancas as portas dos sítios onde sabes que vais regressar mas deixas escancaradas as portas dos locais onde te recusas a voltar.

Preciso que escrevas em papel azul, de 25 linhas, timbrado e aprovado por qualquer entidade que possas considerar relevante, os teus quês e porquês.

Subscrevo-me, de coração aberto,


You gotta love livin', baby, 'cause dyin' is a pain in the ass.

Work in progress

Stop thinking.
Start talking.