Damage control

Because I cannot kiss you ‘good morning’.
Because I cannot kiss you ‘goodnight’.
Yet.


O enterro


Cavava na terra o negrume do passado e a angústia do presente.
Torrões grandes, castanhos do fel. E as raízes impossíveis a enlear-se na enxada.
E o homem em esforço, veias grossas nos braços, palpitantes na testa escorrente de suor.
E grossos os punhos, pilares da razão.

Cavava, fundo, de camisa preta, de calças pretas, de chapéu preto.
E enterrava o badalar do sino e o sangue a pingar do centro do seu peito.

Arrancaram-lhe o coração quando lhe mataram o menino.
À terra voltarás.
Em nome do Pai.
E cavava, cavava o fosso profundo da saudade.

O navio

Navegava com os outros.

Os outros seguiam na proa, caminhavam sobre um chão de água em círculos, pensavam em quadrados e conversavam em linhas retas.

Ela navegava à bolina. Não lhe interessava o destaque da proa mas antes o vento veloz na pele, o recorte das nuvens e a espuma das ondas a desenhar possibilidades.

Trazia pouca bagagem, numa mala gasta de couro que arrumava debaixo da cama todas as noites, para que não fugissem de lá as certezas. Nas pausas mortas em que os outros vestiam traje de gala ela preferia ver passar as estrelas e sentar-se, de pés a pender sobre o infinito.

Deitava-se a sonhar e a fazer riscos na parede com a passagem das milhas atlânticas.
Os outros entristeciam com o fim do brilho ofuscante da opulência.
Ela sorria enquanto via o horizonte e lhe esperava o recorte definido do sítio onde morava o seu coração.


Promessas

Passar a trazer diariamente a máquina fotográfica na mala.
Tentar e (acreditar!) que vou aprender a andar de patins.
Continuar a fazer planos e a procurar soluções alternativas.
Continuar a comer sopa.
Manter por perto as mãos cheias de gente que me quer bem (e que eu quero bem de volta).
Abusar do protetor solar.
Abusar dos momentos bons, sem medo de os viver.
Sorver os minutos e as horas.

E manter presentes as certezas inabaláveis.

Me

And so I stand there and cry.

And everything is overwhelming. Every single thing.
Even the littlest of things is enough to bring out the waterworks: your embrace, your smile, your taste, your scent, the corners where I fit perfectly.
But also: the thought of losing you, of disappointing you.
I stumble on my own words (the ones you make me speak – ‘talk to me, don’t shut down’). But I don’t run away anymore and I bring thoughts, feelings, dreams out loud.
I stumble on this ever aching fearful heart of mine.
My life was just something I lived by (sometimes I think I even stepped outside and just let it roll, losing track, just tagging along).
And then you came along.
And now I’m alive.
(and that, oh yes, brings tears to my eyes)

Porque a espera também pode ser uma coisa boa

You

You've seen my highs.
You've witnessed my lows.
I hid my face in the pillow choking up my tears.
But you made me look you in the eyes.

You've seen me vulnerable, unsure, afraid.
At moments of pleasure and ecstasy.
In moments of sorrow and sadness.
With you. Away from you.

You smile back at me when I feel like a little kid.
You've played hide and seek.
Catch me if you can.
And we've got a water pistol duel to come.

You stood beside me.
Held my chin up.
Encouraged me to dream.
Looked with amusement at my little things.
Held me time and time again in your arms.
Whispered in my ear.
Took me for the ride.
Made plans.

You've compromised.
You gave your all.