Navegava com os outros.
Os outros seguiam na proa, caminhavam sobre um chão de água em círculos, pensavam em quadrados e conversavam em linhas retas.
Ela navegava à bolina. Não lhe interessava o destaque da proa mas antes o vento veloz na pele, o recorte das nuvens e a espuma das ondas a desenhar possibilidades.
Trazia pouca bagagem, numa mala gasta de couro que arrumava debaixo da cama todas as noites, para que não fugissem de lá as certezas. Nas pausas mortas em que os outros vestiam traje de gala ela preferia ver passar as estrelas e sentar-se, de pés a pender sobre o infinito.
Deitava-se a sonhar e a fazer riscos na parede com a passagem das milhas atlânticas.
Os outros entristeciam com o fim do brilho ofuscante da opulência.
Ela sorria enquanto via o horizonte e lhe esperava o recorte definido do sítio onde morava o seu coração.
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