Há quem goste de ganhar.
Já eu...gosto mesmo é da corrida.

A mala de viagem II

Fecha de novo a mala de viagem. Desta vez foi mais longe, mas não longe demais. Desta vez foi mais alto, mas não se perdeu de vista. Ia mais cheia, mais pesada, um ano a mais. Mas regressou com a leveza inesperada do sol quente a queimar a pele.

- Trazes sempre tanta bagagem - disse-me com o brilhozinho nos olhos de quem quer arrancar uma conversa que já se sabe em que lençóis vai terminar.
-
Sempre te disse que carregava muita bagagem comigo.
-
E eu sempre te disse que era mais fácil se a carregássemos os dois.

E viajará, de novo. E os reflexos de quem ajuda a carregar o peso, iluminar-lhe-ão o caminho.

De modos que é isto.

Os passos, uns a seguir os outros, e a surpresa ridícula de sentir vento frio na cara.

Dar por mim a sorrir para os turistas, a trautear músicas enquanto subo ladeiras e a olhar de frente o rio da alma de cada um que nem gente grande. Sentar-me em sítios novos e absorver as esquinas das mesas, as curvas das conversas e o corpo do vinho. Brincar à apanhada e pisar só as pedras azuis da calçada. Soprar com toda a força do meu pensamento e ver nuvens moldadas nas formas que quero. Ouvir fado e piano e palavras soltas e sussurros e dores escritas em garrafas cheias de lágrimas.

E ter saudades e matá-las logo a seguir.

De modos que é isto: há, no fim de contas, muita vida a pulsar nas veias.