Bússola e Compasso

Sento-me e oiço. Porque precisas que eu o faça.
Sorrio e sinto-me genuinamente feliz por ti.

Ainda assim, o que anseio, o que vivo cada dia a desejar mais e mais, são os momentos de glorioso êxtase a cantar a plenos pulmões e as paisagens profundas de um Norte à minha espera.

Falta-me só a Bússola e o Compasso.

E em breve serei eu, aqui sentada, a precisar que me oiças.
Porque tudo o que senti é demais para guardar cá dentro.


Por muito que a vida nos queira
e o tempo nos ensine que não temos mão nela, continuamos.
Teimosamente persistentes.
Persistentemente teimosos.
A achar que lhe trocamos as voltas.

Mas ela segue, serena por trilhos estranhos,
por gravilha, por areia ou pelo asfalto,
a desbravar mato à nossa volta.

Pensamos conte-la ou implodi-la.
Fazer dela um significado maior.

E, no fim, exaustos,
reconhecemos de cabeça baixa a inevitável vitória.

E, hoje, a vida quer passear no Jardim.
E é exactamente isso que ela vai ter.

Issues. Big issues.


"Sanity is just a phone call away"

Quanto tempo é 'muito tempo'?
Quanto tempo é 'tempo demais'?

Efeito Placebo



Porque acredito naquilo que preciso de acreditar.
No que tenho de acreditar.
No que escolho acreditar.

Tudo no conforto estreito do teu abraço.

Noite de Verão

Escrevo este post...em directo.
Dito assim, parece-me bem.
Estou numa noite de Verão perfeita.
Com a melhor das companhias aqui mesmo ao meu lado.
Perco ligeiramente a direcção dos dedos sobre as teclas e escrevo palavras que rapidamente apago.
Penso no que todos dizem mas, acima de tudo, penso no que vai na mente e nos pensamentos - tão, tão distantes - de todos.

É a noite. É a melhor das noites.
Só espero que a vossa seja tão boa quanto a minha

Tic Toc


Tenho o relógio adiantado.
Apenas 2 ou 3 minutos.
No telemóvel e no carro.
Não chego atrasada. Nunca chego a correr.
Espero.

E enquanto o faço pego na caneta, no caderno negro e escrevo pequenos apontamentos como este.

O pulso, sem relógio, sem minutos a mais ou a menos, está descompassado.
Impossível acompanhar o ritmo do calor que se instalou.
Nem tarde, nem cedo.
A horas.

A.


Se tu dizes "Apanha" e corres à minha frente.
Eu persigo-te, de coração transbordante.

Olhas de soslaio sobre o ombro enquanto corres.
Porque queres que te apanhe.
E quando te apanho, quando te elevo no ar deixo para trás
... todos os sonhos desfeitos
... todos os dias perdidos

Porque ver-te crescer muda cada segundo da minha vida.
Porque quando dizes "Apanha" as lágrimas inundam-me o olhar.

Pessoa

Fosse ele vivo, arrastasse ele ainda a magreza da solidão e da melancolia por entre nós, escondesse ele ainda palavras profundas por detrás do redondo dos óculos.
Faria, hoje, anos.

...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família.
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperança.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

...

Álvaro de Campos

A minha cor preferida...


...é o reflexo dos teus olhos.

E também todas as pedras da calçada, todas as esquinas que se dobram sobre si mesmas e desdobram no infinitivo das possibilidades de todos os passos que damos.

E o céu enquadrado na moldura da minha divagação.
E os segundos perdidos nos silêncios do conforto.
E a marca do sol onde não queríamos que tivesse ficado.

A minha cor preferida é esta.
Contra o céu azul, ramagens de tons impossíveis.
E eu a vê-las. E tu, ausente.
E ainda assim, a vê-las comigo.

Apanhar todos os semáforos vermelhos.
Fazer uma encomenda e descobrir, duas semanas depois, que o produto foi descontinuado.
Chover forte e feio quando temos uma manhã de folga.
É impressão minha ou há dias em que…
Trazia a saia demasiado curta. E o sorriso demasiado aberto.
É que eu quase podia jurar que ela vinha feliz, percebes?
E dava um dedo mindinho para saber com quem ela vinha a falar ao telemóvel.
Aposto que era com um palhaço qualquer.

Dizias-me isto com um ar sério, com o ar mais sério. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Mas não era.

Eu limitava-me a abanar a cabeça, a manter o olhar mais complacente possível e a emitir uns “hum hum” e uns “pois” de cada vez que paravas para inspirar fundo ou para beberes um gole da imperial já completamente morta. E lançavas mais um ataque feroz.

Jamais poderia dizer-te que o melhor que aquela mulher alguma vez podia ter feito foi afastar-se de ti e do sufoco que lhe imponhas. Deixava-te embarcar na ilusão das tuas próprias palavras quando dizias “quem perde é ela”. Nunca hei-de perceber como é que consegues ser comigo o melhor dos amigos e com as (várias) mulheres que já passaram pela tua vida, o pior dos namorados.

E, sinceramente, nunca hei-de perceber porque teimas em ligar-me de cada vez que alguém te dá com os pés. Tens auto-estima de sobra (até a mais, diria) e eu, honestamente, tenho mesmo coisas mais importantes para fazer do que ver a cerveja morrer no teu copo enquanto finges que alguém te partiu o coração.