Perdida...


... nas intrincadas ramificações do silêncio.

Ode to a small death (without mourning)

The engine is weary, tired of all the miles it has seen pass him by.
Its bolts and screws are loose and rusty from all the years of lack of maintenance.
The engine is dying.
Its heart has even skipped a beat or two already.
But he carries on, even though he feels every move being made to crush him down, even though the fuel pumped in is poisonous (a sickening combination of hatred and power).
The engine is dying.
Chocking as he tries to work faster, run faster,
think less, feel less,
humanize, cannibalize.
Consume itself in utter effort.
Escape its outer shell; find another body where he fits perfectly and effortlessly.
The engine is dying.
But he does it ever so silently that life will pass him by.

O Grito

Visceral.
A rasgar a garganta, a dilacerar cada recanto da boca, da mente, das certezas esperadas do presente e da compostura singela da subserviência, da vulnerabilidade mastigada até não ser mais suportável.

A fuga.
Revoltosa pela inquietude perene em cada centímetro de pele, renovada ciclicamente dentro dos limites das nuvens negras que duram enquanto os ventos quentes mantêm a distância contida e segura do Possível.

O medo.
Vivido porque se recusa a ousadia de vivê-lo, podendo descobri-lo não tão feroz ou devastador quanto esperado. Os pés atados, as mãos tolhidas nos gestos contidos, controlados, pelo medo.
E pela cobardia.

A mala de viagem

Olhou para a mala aberta sobre a cama. De peito desfeito e cabeça vazia. Tinha-a puxado, finalmente, do canto para onde a atirou durante uma semana inteira. Uma semana de dias iguais, do frio igual ao frio, dos minutos contados ao minuto. Tinha sido difícil de fazer, aquela mala. Esperou até ao último minuto para se encontrar cheia. Cheia de objectos a menos, sentimentos a mais. E a viagem foi curta. Faria se não fosse. Para fechá-la, há uma semana, há uma eternidade atrás, foi preciso apertar tudo bem, misturar cores e valores, fechar depressa o fecho, ficar a rebentar pelas costuras. Sair de rompante para não parar para pensar. E agora, depois de aberta, ali se mantinha. De olhar fixo, imóvel, baço. Autopsiada. Desfeita a mala, desfeitos os sonhos. A roupa suja a lavar para deixar de vez os quilómetros de luz enevoada.

Olha para a mala aberta sobre a cama. Recorta-se a si mesma, pedaço a pedaço. Começa no coração desfeito e termina na cabeça vazia. Sem espaço para lamentos ou dores lancinantes, acomoda-se, pedaço a pedaço, na mala. E fecha-se ali dentro. Quem sabe se amanhã não vai agarrar nela para viajar. Desta vez sem ter que se preocupar em regressar.