O enterro


Cavava na terra o negrume do passado e a angústia do presente.
Torrões grandes, castanhos do fel. E as raízes impossíveis a enlear-se na enxada.
E o homem em esforço, veias grossas nos braços, palpitantes na testa escorrente de suor.
E grossos os punhos, pilares da razão.

Cavava, fundo, de camisa preta, de calças pretas, de chapéu preto.
E enterrava o badalar do sino e o sangue a pingar do centro do seu peito.

Arrancaram-lhe o coração quando lhe mataram o menino.
À terra voltarás.
Em nome do Pai.
E cavava, cavava o fosso profundo da saudade.

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