Aceitou o desafio.

Disse que sim com uma facilidade surpreendente, deixando escapar a verdade antes que a razão pudesse apanhá-la a meio do caminho. De qualquer forma, gostava de dizer: “adoro desafios”, estivesse ou não alguém a ouvi-la. Para se convencer a si mesma e para se obrigar a dar passos em frente.

Gostava do traçar dos planos, das tabelas com prazos e limites, da determinação de objectivos. Da racionalização de momentos e minutos, delimitados e previstos, como se fosse tão simples quanto isso.

Deixou escapar a verdade, sorrateira, por entre os lábios.

Brincou com os seus vestígios, saboreou com a língua o seu ténue rasto e mordeu os lábios pelo bem que isto lhe sabia. A verdade estava cá fora, nada a fazer quanto a isso. Agarrou instintivamente na caneta e escreveu no primeiro pedaço de pele que apanhou a jeito (que nem era, sequer, seu).

Deixou que lhe inflamassem o ego, um flirt que lhe sabia bem por sabê-lo raro e por, lá no fundo, não acreditar nele.

Sentada, os ataques vinham de todos os lados:

- das palavras que a confrontavam à sua frente;

- das palavras que, sussurradas ao ouvido, a deixavam com a emoção à beira da pele;

- das palavras que, do fundo da mesa, lhe gritavam e ficavam a pairar, nada subtis, no ar (misturadas com fumo, riso e promessas).

As palavras, sempre as palavras.

E conseguia listá-las assim, entre travessão e ponto e vírgula, com todas as sílabas a que tinham direito. Desafiadas e, simultaneamente, desafiadoras. Brincou uma vez mais com a verdade, nos lábios, saboreada e multiplicada no calor honesto dentro de si. Sabiam-lhe a vinho, a sol e a futuro.

E, por fim, agarrou nas palavras e fez delas o que sempre quis fazer mas nunca tinha conseguido. Perante todos, disse: “é este o plano…”

3 comments:

CarMG disse...

Temos plano?!

Por vezes só falta mesmo convencermo-nos a nós, já que o Mundo lá fora está mais do que convencido :)

I disse...

Estou com a Car, do lado dos convencidos! Venham palavras, com ou sem plano! :-)

Lina disse...

Estou com um pé nos convencidos e o coração nas mãos. A vontade e a tentação, querer tentar e ter medo de não conseguir.

Mas com um plano (se é que se pode chamar-lhe isso).