Para J., #2

Despe a pele ao fim do dia, quando chega a casa.

Pendura-a a secar de todas as mentiras que diz a si mesmo e do orgulho que engole enquanto caminha no arame.

Acrobata perfeito no limbo.

Perdido de si e achado nas esquinas a caminho de mais uma noite.

Descrente do mundo, descrente de tudo.

Cerra os olhos, cerra os dentes, cerra os punhos.

E aguenta mais uma viagem.

Rói com os dentes as amarras.

Don’t let the bastards grind you down.

4 comments:

Anônimo disse...

Acrobata com cada vez menos equilíbrio, vendo apenas o abismo de ambos os lados, sempre à beira de cair.
Descrente de tudo e de todos, sempre!
Mas a caminhada continuará enquanto a vida, que se desvanece, flui nos grãos de areia no rio do tempo.

Sinto-me espelhado nas tuas profundas palavras e sabes o que me vai no fundo da mente.

J

Lina disse...

J., o que importa é continuares a caminhar, continuarmos a caminhar, mesmo que em equilíbrio precário.

***

CarMG disse...

Gosto, acima de tudo, do despir da pele ao fim do dia.

Confundir-nos-ia menos, no dia seguinte, quanto a voltássemos a vestir, saber qual delas é!

Lina disse...

Começa a parecer-me cada vez mais uma necessidade fazê-lo.
Nuns dias, deixá-la pendurada na cadeira. Noutros,atirada para um canto no chão. E, nos mais especiais, cuidadosamente dobrado sobre a cama.