Vejo o sol subir e descer o muro à minha frente. No seu percurso diário, apanha o autocarro quase sempre à mesma hora. Uma vez por outra chega atrasado um ou dois minutos, mas não o suficiente para que eu perca o espectáculo.

Tenho lugar cativo.

Assisto ao desfile, ao filme e ao torneio.

Durmo, acordo, sonho acordada.

Vejo-te as mãos, os olhos, a boca.

Anseio o teu toque, o teu olhar, o teu sabor.

Nem sempre ficas ao meu lado, para assistir à vida a passar.

Por vezes, passas dias sem aparecer.

Mas acabas por chegar, mais cedo ou mais tarde.

No entretanto, perco os autocarros que passam porque estou distraída e o sol aborrece-se comigo porque não lhe dou atenção.

O que acabo por nunca lhe admitir é que a tua intermitência começa a fazer concorrência aos próprios raios do sol.

2 comments:

I disse...

Esses lugares-pessoas que nos conhecem melhor do que os conhecemos a eles... e as paragens, para sair, entrar e quem sabe ir até ao fim da linha!

Lina disse...

:)
...e descobrir que, afinal, a linha não tem fim!