Todo o tempo do mundo

Sinto que tenho todo o tempo do mundo, hoje.

Tempo para escrever em ti e por ti as palavras que me rasgam a pele, roçando a verdade, ao saírem por cada poro, por cada olhar. Espraiam raios de luz que incandeiam os olhares bravios que se aventuram a deixar apenas de olhar para baixo, deixar apenas de olhar em frente.

Por isso, tenho todo o tempo do mundo para ti, hoje.
Para te mostrar os abismos por onde passaste sem os teres notado, seres marinhos milenares, cegos na profundidade de ti.
Para parar, mesmo quando o semáforo ainda está laranja, para deixar passar os peões, os bispos, os cavalos e as torres. A rainha que os coma a todos. Cheque ao rei.
Para olhar para o relógio que parou há meses e para lhe acertar o passo.

Tenho todo o tempo do mundo para ti, hoje.
Para responder a cada ponto de interrogação, para sonhar contigo a cada ponto de exclamação, para fazer lânguidamente contigo todas as vírgulas, corpos unidos no balanço que a nossa sintaxe já conhece.

Tenho todo o tempo do mundo para lamber as feridas, aparar os golpes.
Todo o tempo para desperdiçar a 6ª, a entrar no sábado pelo domingo adentro.

0 comments: