Go or go ahead


Abri a porta para o silêncio. As luzes apagadas. Apenas uma janela aberta a deixar escorrer para dentro de casa a luz mortiça e intermitente do candeeiro da rua.
Acendo, agora, os interruptores à medida que avanço em cada divisão, à tua procura. Sobre a mesa está um papel, a escrita firme, quase serena:

Ninguém tem que me ouvir. As minhas dores, a repetição exaustiva dos meus dias e da forma como, lentamente, desapareço sob camadas de sonhos mortos pelas desilusões e pelo cansaço.
Ninguém tem a obrigação de ver as minhas lágrimas, a minha descrença e a minha insegurança. Não sou de ninguém. Aprendo, da pior maneira, a tentar ser sozinho. À medida exacta e na mesma proporção com que as paredes e as mãos dos outros se fecham ou afastam de mim.
Mas não sei ser sozinho.
Não consigo ser sozinho.
Não quero ser sozinho.
E a angústia somada de todos estes silêncios, mais e mais profundos, caem como o pano no último acto.


Mas não podias estar mais errado. Saio porta fora. Não me preocupo (como sempre faço) em apagar todas as luzes e fechar bem a porta.
Sei exactamente onde estás e vou chegar até ti. E vou mostrar-te que estás errado. Os teus sonhos não morreram: juntos vamos dar-lhes vida.

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