Disseste-me que não sabias. Porque as noites eram pequenas.
Mal davas por ti, já estavas a sair debaixo das mantas onde há tão pouco te havias refugiado, sem tempo para pensamentos ou para dar conta dos sonhos que fugiam de mim, segundos antes de adormecermos. E já estavas de novo a pé. Parecia que tinham passado poucos minutos. Parecia que tinha passado uma vida inteira.
O lume ardia todo o dia e as brasas mantinham-se incandescentes até à madrugada. Sob a camada de cinza, o calor que deitavam, ajudava a aquecer-te as mãos.
Ainda assim, via-te a esfregá-las uma de encontro à outra, rodando os pulsos, a chegá-las aos lábios e a soprar lá para dentro. A hesitares na resposta. A evitares os meus olhos.
Já não te esperava ouvir. Era tão cedo ainda. O cão a dormir, enroscado num canto.Tu a olhares para mim enquanto vertia o leite quase a ferver na caneca. E a demorares mais do que podias, mais que devias, a deixá-lo arrefecer, de olhar preso na janela e no dia a crescer lá fora.
E do silêncio mais profundo da cal das paredes, a tua voz ecoou: é hoje.
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