Calei-me.
Frente a ti faltam-me sempre as palavras.
Ou então são de sobra, e tropeçam umas nas outras no desalinho de um fio condutor qualquer.

Por isso, calei-me.
E ouvi-te.
E ouvi os nossos silêncios.

E escrutinei cada pequeno movimento das tuas mãos.
A forma como com elas desenhas certas palavras, a maneira (tão tua) de segurar o cigarro e brincar com ele nos dedos, sem te aperceberes e sem chegares quase a fumá-lo.
A forma como às vezes passas a mão no cabelo, a meio de uma frase e não chegas a terminá-la.
Ou como as escondes nos bolsos quando estás nervoso.

E enquanto o meu olhar passeava, a tentar perceber-te,
o teu poisava desconexo num ou outro movimento que te roubava a atenção.

E, sem que o esperasse, disseste:

Estás tão calada...
Fala. Gosto de te ouvir.

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