Cai-lhe a chuva na palma da mão. Mas não a desvia.
Sente-lhe os caminhos que percorreu e os sulcos que desbravou.
Vira-a e revira-a, dá-lhe nomes e idades distintas.
E sente-a fria, e sente o frio.
Que vai lá fora, que lhe vai por dentro.
E esquece a chuva, aconchega a roupa, fecha mais um botão, encolhe-se mais e procura o seu próprio calor.
Perdido e achado por entre os vincos da roupa e as rugas da alma.
Velha de sabedoria, cansada de saber.
A Espera
on 25 novembro 2009
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Estou sentada. À espera.
Ordeno os pensamentos e ensaio mentalmente o discurso.
Uma vez mais, mil vezes mais.
Aglutino as palavras ordeiramente, frases, parágrafos, capítulos inteiros para conseguir chegar onde quero.
Ao fim.
A ti.
Repito mil vezes as mesmas lógicas, as mesmas conclusões, para que se solidifiquem na minha mente. Para que não fraqueje na hora em que terei que dizê-las à tua frente.
Aqui, sentada, sob a luz do candeeiro da rua, racional e confiante.
Depois, no traiçoeiro calor das tuas quatro paredes, esvaem-se as forças, as verdades e varrem-se as palavras ensaiadas para chegar ao fim.
A ti.
Concentro-me, fecho os olhos, cerro os pulsos.
Cá vai, tarde demais.
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Tímidos, a princípio.
Impetuosos, impiedosos, a arrancar-me de mim.
Sem defesas, sem forças
- sem querer sequer lutar -
entrego-me ao minimalismo irresistível, impossível,
do compasso da tua respiração.
Mais tarde, depois da batalha inebriante nos teus lábios,
quando dormes,
pego no marcador e escrevo no teu pulso mais um pensamento
para que sejas ainda e sempre meu.
Não tenhas medo.
Perseveramos na tormenta.
E pertence-mo-nos.
Impetuosos, impiedosos, a arrancar-me de mim.
Sem defesas, sem forças
- sem querer sequer lutar -
entrego-me ao minimalismo irresistível, impossível,
do compasso da tua respiração.
Mais tarde, depois da batalha inebriante nos teus lábios,
quando dormes,
pego no marcador e escrevo no teu pulso mais um pensamento
para que sejas ainda e sempre meu.
Não tenhas medo.
Perseveramos na tormenta.
E pertence-mo-nos.
on 20 novembro 2009
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"Sei desde o início:
na solidão, é-me impossível fugir de mim próprio."
J.L.Peixoto
na solidão, é-me impossível fugir de mim próprio."
J.L.Peixoto
on 18 novembro 2009
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Posso roubar-lhe dois minutos?
Parei. Pensei.
Tanto tempo desperdiçado em momentos inúteis, em conversas sem nexo.
Em tentativas infrutíferas, em explicações desnecessárias.
A procrastinar, a sonhar acordada, a contemplar o infinito ou o vazio.
Tanto tempo perdido a dizer não, a dizer talvez, a dizer nunca. E se todos esses minutos valeram a pena...
... Pode.
Do outro lado, um olhar de espanto, um sorriso e alguém apanhado completamente desprevenido.
Parei. Pensei.
Tanto tempo desperdiçado em momentos inúteis, em conversas sem nexo.
Em tentativas infrutíferas, em explicações desnecessárias.
A procrastinar, a sonhar acordada, a contemplar o infinito ou o vazio.
Tanto tempo perdido a dizer não, a dizer talvez, a dizer nunca. E se todos esses minutos valeram a pena...
... Pode.
Do outro lado, um olhar de espanto, um sorriso e alguém apanhado completamente desprevenido.
on 12 novembro 2009
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Acorda. Levanta-se.
Sai devagar da cama para não a acordar.
Encosta a porta, o duche do costume, água a escaldar sobre os ombros, a sacudir o resto dos sonhos pelo cano abaixo.
Depois abre as gavetas, escolhe uma gravata e um ou outro sorriso para levar na algibeira.
Nunca se sabe.
Bebe um café, pega nas chaves e deixa-lhe um bilhete:
Não escrevas em mim os teus pensamentos. Porque me fazes sentir teu. E eu tenho medo.
Sai devagar da cama para não a acordar.
Encosta a porta, o duche do costume, água a escaldar sobre os ombros, a sacudir o resto dos sonhos pelo cano abaixo.
Depois abre as gavetas, escolhe uma gravata e um ou outro sorriso para levar na algibeira.
Nunca se sabe.
Bebe um café, pega nas chaves e deixa-lhe um bilhete:
Não escrevas em mim os teus pensamentos. Porque me fazes sentir teu. E eu tenho medo.
on 11 novembro 2009
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Falasses tu e que segredos partilharias?
Que torrente de palavras,
guardada
selada
adormecida?
Todos os teus medos, as tuas forças
A coragem inebriante das tuas águas?
Dos teus lábios?
Desalinho II
on 07 novembro 2009
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As horas, os minutos, subjectivos.
Amarrados, mas decididos e perseverantes.
Na tormenta.
Esticam o infinito do presente
feito de esperas,
de ausências,
de entrelinhas.
on 03 novembro 2009
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Se o imediatismo dos pensamento está em desalinho
Contraria-se a vontade dos dedos em discorrerem sobre as linhas profundas da carne.
Aconchegam-se mais à pele as sombras do teu olhar
que a memória guarda locais inesperados.
E o desalinho dos dedos a discorrerem
a memória
a pele
À procura da vontade
das sombras
de ti.
Contraria-se a vontade dos dedos em discorrerem sobre as linhas profundas da carne.
Aconchegam-se mais à pele as sombras do teu olhar
que a memória guarda locais inesperados.
E o desalinho dos dedos a discorrerem
a memória
a pele
À procura da vontade
das sombras
de ti.