A Espera


Estou sentada. À espera.
Ordeno os pensamentos e ensaio mentalmente o discurso.
Uma vez mais, mil vezes mais.
Aglutino as palavras ordeiramente, frases, parágrafos, capítulos inteiros para conseguir chegar onde quero.
Ao fim.
A ti.

Repito mil vezes as mesmas lógicas, as mesmas conclusões, para que se solidifiquem na minha mente. Para que não fraqueje na hora em que terei que dizê-las à tua frente.

Aqui, sentada, sob a luz do candeeiro da rua, racional e confiante.

Depois, no traiçoeiro calor das tuas quatro paredes, esvaem-se as forças, as verdades e varrem-se as palavras ensaiadas para chegar ao fim.
A ti.

Concentro-me, fecho os olhos, cerro os pulsos.
Cá vai, tarde demais.

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