Bateu com a porta.
O gesto definitivo e final de quem (acha) que fecha um capítulo. Para trás, todas as certezas. Não sabia se voltaria sequer para resgatar o que era seu. Provavelmente não. Agora, pelo menos, achava que não. Que não regressaria nunca.
Carregava incessantemente no botão do elevador e esperava que ele não a seguisse, que não abrisse a porta e desse com ela ali, ainda ali, ridiculamente à espera do elevador.
Continha as lágrimas. Não sabia se por não as ter, se por não as conseguir. E decidiu-se pela escada. Escura, raramente utilizada. Uma saída que sempre ali tinha estado. Mas que nunca tinha sido descoberta.
Deixava as certezas, os hábitos, os dias sempre iguais. Não sabia, então, que mais cedo ou mais tarde todos os dias se tornam relativamente iguais. Não se sentia desejada e, ao invés do que seria normal, o que ela já não suportava não eram os gritos, as palavras arrependidas mal eram proferidas. O que ela já não suportava eram os silêncios. A presença silenciosa daquele ser que se tinha tornado um estranho.
Desceu as escadas duas a duas. Uma saída. A única que conseguia ver. A única que quis ver.
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